Nada Contra Duo - Concerto
Concerto | Lisboa Incomum
20 de Fevereiro de 2025 | 20h
O percussionista Francisco Cipriano e a pianista Mrika Sefa - Nada Contra Duo, estarão em Residência Artística em Fevereiro de 2025 no Lisboa Incomum, onde irão realizar um concerto do dia 20 de Fevereiro.
Entrada livre, mediante reserva para [email protected]
Nada Contra nasce de uma colaboração entre a pianista Mrika Sefa e o percussionista Francisco Cipriano. Ambos dedicados à interpretação e pesquisa do repertório do Século XX/XXI, Mrika e Francisco procuram expandir não só a performance contemporânea mas também a criação de novas obras.
Nos primeiros meses da existência, o duo tem tido o prazer e o privilégio de colaborar ativamente com os seguintes compositores: João Quinteiro, Hugo Vasco Reis, Marta Domingues, Valerio Sannicandro e Michael Maria Ziffels, cujas obras estrearam em Portugal e Alemanha. Tiveram a oportunidade de tocar no Festival Achtelton (Hitzacker, Alemanha), Festival Croma (Oeiras, Portugal), na Sonoscopia (Porto, Portugal), Contemporary Insights (Leipzig, Alemanha) e no O’culto da Ajuda (Lisboa, Portugal).
O duo, surge com o intuito de conceber novo repertório para esta formação. Através de várias colaborações com diversos compositores, investiga a busca sónica inacabável da percussão com a de um sintetizador capaz de gerar qualquer tipo de objeto sonoro.
Notas de programa
Valerio Sannicandro: Esercizi di morte (2023
Retratando reflexões sonoras sobre diversas experiências sociais, políticas e culturais dos últimos anos, esta curta e introvertida peça para piano e percussão enquadra um estatuto contemplativo, sem qualquer tipo de desenvolvimento, estático e opressivo no seu carácter sonoro, expressando primeiro uma sensação de vazio, uma tensão ou ansiedade interior, uma forte sensação de escuridão no final.
Embora tenha sido vista como uma declaração político-espiritual, Esercizi di morte (Todesübungen) lembra Esercizi spirituali de Ignazio di Loyola. Para ele, foi necessário um período de reflexão para compreender como tais exercícios (ou pensamentos) seriam um espelho daquelas situações que levam rapidamente os seres humanos a uma atitude niilista, negativa, quando não autodestrutiva, ao fazerem compromissos com os direitos humanos fundamentais e, às vezes, lógica.
A sensação de vazio e distância intemporais, transportada pela música, cristaliza sentimentos e palavras não ditas, retratando ao mesmo tempo uma sensação de isolamento que finalmente se funde num grito de protesto.
Marta Domingues: Sowing snow in cone pots (2024)
Esta peça foi escrita para(com) o duo Nada Contra do Chico e da Mrika. Procura explorar as potencialidades sonoras que se aliam ao gesto físico que as produzem.
Serve-se da natureza dinâmica do duo, que une a fisicalidade do corpo e a artificialidade do sintetizador e dos cone speakers, para desafiar as suas relações e interações. Num jogo de transformações em contínuos sonoros, surge a possibilidade de permutar papéis - não ir contra, mas permitir interferências.
sowing snow in cone pots é, então, de um modo literal, uma peça que procura fazer crescer algo daquilo que o corpo semeia - espaço, textura, energia... neve.
João Quinteiro: Pairs: à propos de l’interiorité (2023)
Há pessoas com quem empatizamos quase de forma imediata. E depois há pessoas, que sem darem conta, nos entram pela vida dentro e nos desarrumam tudo de tal ordem, que não nos sobra outra hipótese que seja reconhecer-lhes a maior importância, não só como amigos, mas como agentes transformadores, que nos obrigam a alargar as costelas e sermos mais do que éramos, antes de os termos encontrado. Penso que sem saberem, o Chico e a Mrika são pessoas assim, para mim.
A Canção III fecha um conjunto de quatro peças que comecei a escrever em 2019.
À parte as suas grandes diferenças, as quatro canções partilham como fio condutor genético, a dedicatória a quatro compositores, que de formas distintas, marcaram certos passos ao longo do meu percurso.
Não sei se por coincidência se por desígnio insondável, calhou que lhes escrevesse a obra que dedico ao Emmanuel, alguém que, também sem o saber, me mantém ainda hoje muitas vezes a vida felizmente desarrumada.
Sarah Nemtsov: Eyes White Erased (2014/2015)
"Get yourself out of whatever cage you find yourself in"
(John Cage)
"...and that I listen, and that I seek, like a caged beast born of caged beasts born of caged beasts born of caged beasts born in a cage and dead in a cage, born and then dead, born in a cage and then dead in a cage, in a word like a beast, in one of their words, like such a beast, and that I seek, like such a beast, with my little strength, such a beast, with nothing of its species left but fear and fury, no, the fury is past, nothing but fear, nothing of all its due but fear centupled, fear of its shadow, no, blind from birth, of sound then, if you like, we'll have that, one must have something, it's a pity, but there it is, fear of sound, fear of sounds, the sounds of beasts, the sounds of men, sounds in the daytime and sounds at night, that's enough, fear of sounds, all sounds, more or less, more or less fear, all sounds, there's only one, continuous, day and night, what is it, it's steps coming and going, it's voices speaking for a moment, it's bodies groping their way, it's the air, it's things, it's the air among the things, that's enough, that I seek, like it, no, not like it, like me, in my own way, what am I saying..."
(Samuel Beckett, The Unnamable)
Francisco Cipriano obteve a sua licenciatura em percussão na Escola Superior de Música de Lisboa e terminou o mestrado em performance, na Hochschule der Künste Bern (Suíça). Foi bolseiro da Fundação GDA e Hirschamann Foundation e galardoado nos principais concursos em Portugal em categoria solo e música de câmara no Prémio Jovens Músicos, nível médio e superior, Concurso Internacional de Percussão da Beira Interior, Concurso internacional de Lagos, entre outros.
Através de diversos projetos a solo e em música de câmara procura a exploração da música vanguardista, da colaboração e da experimentação. Colaborou com vários grupos como o Ensemble DME, Merak Trio, Orquestra Metropolitana de Lisboa, Les Percussions de Strasbourg, Ensemble Off, Vertigo Ensemble e o duo Nada Contra. Atualmente dedica-se também à música improvisada, apresentando-se no Festival Robalo, na Penhasco Cooperativa e na Jam Session, no Arroz Estúdios.
Apresentou-se no Festival Jovens Músicos, Festival Les amplitudes, Festival Intinerante de Percussão , Cistermúsica, Musikfestival Bern, Festival Música Viva, Liminal Spaces. Fez encomendas para obras solo de percussão a Tobias Pfeil (Simulation I), João Caldas (Pirâmide de Aristóteles), Marta Domingues (-grafia). Estreou peças de ensemble/ orquestra de Luis Tinoco, Diogo Alvim, Dimitris Andrikopoulos, Miguel Amaral, Luis Cipriano, Francisco Fontes, Hugo Vasco Reis, João Quinteiro, Valerio Sannicandro.
Co-criou, Transformer L’Homme, uma colaboração entre Tomás Moital, Pedro Tavares e Pierre Carré apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, Uma outra Bela Adormecida com Beatriz Brás, Martim Sousa Tavares e Francisco Lourenço, Unfold com Kayzer Ballet. Gravou o CD flutuações com a flautista Katherine Rawdon, Times Stand Still com o Ensemble Darcos Times Stand Still. Desde 2021 que procura lançar a sua carreira de freelancer por toda a Europa com foco principal na exploração de Música contemporânea e colaborações regulares com artistas.
Mrika Sefa nasceu no Kosovo, onde começou o seu percurso musical. Foi aluna do Conservatório de Música de Pristina (Kosovo), antes de ingressar na Academia de Música em Basileia (Suíça). Ainda na Suíça e, enquanto bolseira da B.O.G. (Stiftung Basler Orchester-Gesellschaft) e da Fundação artista, teve a oportunidade de completar a licenciatura na Universidade de Berna e o mestrado na Universidade de Lucerna.
Em 2022 concluiu o segundo mestrado em música de câmara, na Hochschule für Musik und Theater, em Leipzig. Entre os diversos prémios que arrecadou, destacam-se o 1° prémio no concurso de piano YAMAHA (Suíça) e o 2° prémio no Concours Musical de France.
Mrika dedica grande parte do seu tempo à música de câmara, trabalhando regularmente com canto (Lied) e em duo com violoncelo. Em 2018 fundou o Duo Litanei, juntamente com o violoncelista Hugo Paiva.
Além da sua atividade na vertente da música de câmara, dedica-se à performance de música contemporânea, tendo nos últimos tempos trabalhado com diferentes ensembles dedicados à música contemporânea: Ensemble Contemporary Insights, Ensemble Contemporâneo da Póvoa de Varzim e Ensemble Concrète LAB, com os quais estreou obras dos seguintes compositores: Rui Antunes, Agustín Castellón Molina, Wieland Hoban, Corie Rose Soumah, Eduardo Patriarca, António Pinho Vargas, Marco Moura, Eleni Ralli, Zachary Seely, entre outros.
Mrika participou em vários programas televisivos da autoria de Martim Sousa Tavares e, sobe a direção do mesmo, apresentou-se como solista com a Orquestra Sem Fronteiras.
Os seus interesses também passam por outras áreas artísticas. Trabalha regularmente com o artista plástico Fidel Évora, em projetos interdisciplinares, e, envolve-se com frequência em projetos de teatro.