Cultura & Sustentabilidade 2024










Cultura & Sustentabilidade


 8ª Edição
         22 a 24 de Novembro de 2024 | Lisboa Incomum


O evento ‘Cultura e Sustentabilidade’ é coorganizado anualmente pelo Projecto DME no espaço Lisboa Incomum.
Contando com sete edições desde 2017 (ano de inauguração do espaço lisboeta), tem como objetivo fomentar uma discussão interdisciplinar (artística, científica, política) sobre os papéis que as práticas artísticas podem assumir para a consciencialização ambiental, intervindo na discussão sobre temas como a sustentabilidade e a ecologia. Esta discussão é feita entre o público e os convidados do evento através de diferentes tipos de actividades como conferências, concertos e workshops.

À semelhança das últimas duas edições, o evento conta com a co-organização do CCMAR - Centro de Ciências do Mar da Universidade do Algarve e está de regresso nos dias 22, 23 e 24 de Novembro. Sob o mote “Espécies em extinção”, a programação desta edição contempla três concertos, quatro conferências, um workshop, uma ‘sala de escuta’ e um mercado.

Produção: Projecto DME-Lisboa Incomum


Co-organização: CCMAR - Prof. Rui Borges e Profª. Isabel Barrote




Programa



22 de Novembro (Sexta-feira)

20h30 – 21h00 – Convívio

21h00 – Concerto de abertura: “Ladrem, Pardais!

12h00- Inauguração da listening room (Trabalhos seleccionados no âmbito da CALL FOR MUSIC – Culture and Sustainability 2024)

14h30 – 18h00 – 
Conferências CCMAR/IPMA

João Silva (CCMAR) – O papel das plantas marinhas no oceano do futuro
Pedro Guerreiro (CCMAR) –  Crónica de várias extinções anunciadas - Dos peixes-gelo e outros inquilinos da Antártida às novas invasões mais perto de casa
Laura Ribeiro (IPMA) –  Aquacultura e Sustentabilidade: Produção de Alimentos com Responsabilidade Ambiental

18h00 – 19h00 –  Convívio (Mesa SOW - Conexões Gastronómicas | Seeds on Wheels)

19h30 – Projecto "Terrain Vagues | Blooming Landscapes" - Neumerz


24 de Novembro (Domingo)

11h00 – 18h30 – Mercado Sustentável

14h30 – 15h30 – [workshop] João Archer Pratas & Ariana Marques da Silva (Seeds on Wheels [SOW]) – Mãos na Massa: E se a Resiliência Urbana Fosse Plantada?


16h00 – 17h00 –Concerto dos alunos do Laboratório de Música Mista e Acusmática da Escola Superior de Música de Lisboa

17h30 – 18h30 – Convívio (Mesa SOW - Conexões Gastronómicas | Seeds on Wheels)


As actividades têm entrada gratuita mediante preenchimento do formulário de inscrição.



Dia 22 de Novembro, às 21h00


O trio de flautas Ladrem, Pardais!, composto por Célia Silva, Juliana Dias e Teresa Costa, e o compositor Fábio Chicotio estarão em Residência Artística em Novembro de 2024 no Lisboa Incomum para trabalhar numa nova criação musical.

A residência culminará no concerto inaugural do evento Cultura e Sustentabilidade, no dia 22 de Novembro às 21h00 no Lisboa Incomum.



Programa

Brent McCall - Landspace for flute(s) and suspended glass chimes (1973)


Nuno Lobo - Ladra, Pardal! (2018)


Liza Lim - Bioluminescence (2018)


Roman Haubenstock-Ramati - Interpolation (1957)


Enno Poppe - 17 Ëtuden für die Flöte, 3. Heft (2009)


Mariana Vieira - TRE (2019)


Fábio Chicotio - Coeval Proportions (2024)*


* Estreia Mundial, encomenda Projecto DME




Ladrem, pardais!

@Diana Gil
Ladrem, pardais! é um trio que interpreta música contemporânea para flautas, projecto que nasce da vontade de divulgar e valorizar obras de compositores portugueses emergentes.
Célia Silva, Mariana Portovedo e Teresa Costa formaram o naipe de flautas da Academia de Verão do Remix Ensemble Casa da Música em 2021 e rapidamente reconheceram a urgência que lhes era comum em desenvolver um trabalho artístico colaborativo.
Apresentaram-se em Maio de 2023 no Círculo de Cultura Musical da Bairrada e no Ermo do Caos no Porto com um programa que incluía obras para flautas de Agnelo Marinho, Carlos Lopes, Catarina Bispo, Fábio Cachão, Mariana Marques Coelho, Mariana Vieira, Nuno Lobo e Rodrigo Vieira Cardoso.
Têm também como objectivo promover estéticas contemporâneas perante um público diversificado e descentralizado, e por isso projectam a realização de concertos comentados, performances “arte in situ” assim como a criação de programas para a infância.
Em Novembro de 2024 desenvolvem um trabalho colaborativo com Fábio Chicotio em residência no Lisboa Incomum - Projecto DME; Em Março de 2025, com o apoio da dgartes, apresentam “Ecos de Argila”, um trabalho de criação com Solange Azevedo, Rita Soares e Beatriz Martinho na fábrica da antiga Cerâmica Rocha em Oliveira do Bairro.


Durante a residência artística no Lisboa Incomum a flautista Mariana Portovedo será substituída pela flautista Juliana Dias.


Juliana Dias

Juliana Dias é Licenciada pela Escola Superior de Música de Lisboa na classe dos Professores Amalia Tortajada e Nuno Ivo Cruz, com quem frequenta atualmente o Mestrado em Ensino de Música, na mesma instituição.
Realizou masterclasses com Nuno Inácio, Francisco Barbosa, Adriana Ferreira, Rute Fernandes, Rien de Reede, Frédéric Sanchéz, Salvador Martínez, Júlia Gállego, Mario Caroli, Anne-Cathérine Heinzmann, Marina Piccinini, entre muitos outros.
Teve o privilégio de trabalhar com diversos maestros como Carlos Marques, Bernardo Lima, Henrique Portovedo, Susana Milena, Armando Saldarini, Ernst Schell, Mark Heron, Nigel Clarke, José Eduardo Gomes, Vasco Pearce de Azevedo, Maxime Aulio e Jean-Marc Burfin. Participou em festivais e concursos nacionais e internacionais em Espanha, Itália, Holanda e Alemanha.
Apresentou-se em recitais de flauta e piano tais como o Musicatos, Festival Percursos da Música, Quinta de Regaleira. Ao nível de música de câmara também integrou diversas formações distintas como o ClusterLab (música contemporânea), Quinteto de Sopros, Ensemble de Flautas, Coro de Câmara ESML.
Integrou em 2020 um projeto de reinserção social, patrocinado pela DGARTES, denominado Libert’arte e em 2023 estreou a ópera infantil, “Jardim Secreto” de Rafael Araújo, no Teatro Olga Cadaval, em Sintra.



Fábio Chicotio
@Rui Correia

Fábio Chicotio, nascido a 28 julho de 1991. Natural de Samora Correia, iniciou os seus estudos musicais na Sociedade Filarmónica União Samorense, em percussão. Continuou os seus estudos, no mesmo instrumento, no Conservatório Regional de Artes do Montijo, no Conservatório de Música da Metropolitana e na Escola Superior de Música de Lisboa*. Por razões de saúde, não terminou a sua licenciatura em Percussão. Em 2021, ingressou no curso de Composição na ESML* onde se encontra no terceiro ano da licenciatura. Durante este período teve oportunidade de estudar com os professores e compositores Carlos Caires, Carlos Fernandes, Carl
os Marecos, Jaime Reis, João Madureira, Nuno da Rocha, Roberto Pérez, Sérgio Azevedo, sendo atualmente aluno do professor e compositor Vasco Mendonça. Participou também em masterclasses com os compositores Fábio de Sanctis Benedictis (2023), Flo Menezes (2022), Luigi Abbate (2022) e Valério Sannicandro (2022).




Dia 23 de Novembro, às 11h00

 


Herbários são meras plantas secas arrumadas numa estante?

Os Herbários, enquanto coleções de história natural, documentam a biodiversidade e o conhecimento das plantas do passado e do presente. Representam autoridades e referências críticas para as mudanças que a sociedade impõe aos ecossistemas, permitindo também conceber cenários futuros. Promovem a recolha de dados e de espécimes do património florístico, essenciais para o conhecimento da biodiversidade vegetal (o quê? - onde?) epara a monitorização de espécies ameaçadas.

São uma imensa fonte de dados e de material para o desenvolvimento científico de diferentes disciplinas (sistemática, biogeografia, farmacologia, agronomia...). Fornecem o enquadramento conceptual para estudos em biologia evolutiva e para a biologia da conservação, contribuindo para testar possíveis soluções de conservação de espécies e programas de recuperação e restauro.
Foram, e estão a ser, fulcrais para o desenvolvimento da criação de bases de dados digitais integradas de flora ou de biodiversidade, nacionais e internacionais, muitas vezes associadas a plataformas digitais de ciência cidadã. Do ponto de vista da penetração na opinião pública, conceitos estratégicos de biodiversidade e, em sentido mais amplo, o de sustentabilidade, necessitam de materialidade e de evidências. A generalidade dos Herbários está assim envolvida em diversos eventos com os cidadãos na tomada de consciência pública das temáticas ambientais e para a mobilização face aos desafios ambientais globais dos nossos dias.



Maria Manuela David
Professora Associada Aposentada da Universidade do Algarve, doutorada em Biologia pela Universidade do Algarve, desenvolveu atividade científica e docente em estudos de ecofisiologia das plantas em condições de stress ambiental típico das regiões Mediterrâneas. É curadora do Herbário da Universidade do Algarve -ALGU e tem participado em diversas ações de promoção de conhecimento e consciência pública de temáticas ambientais que envolvem o património florístico do Algarve.








Dia 23 de Novembro, às 12h00

Os trabalhos seleccionados no âmbito da CALL FOR MUSIC – Culture and Sustainability 2024, que contou com mais de 100 submissões, integrarão uma instalação sonora que será inaugurada no dia 23 de novembro, às 12h, no Lisboa Incomum.

A instalação, concebida como uma listening room, oferece aos visitantes uma experiência única, permitindo-lhes imergir no sistema em forma de cúpula do espaço do Lisboa Incomum.


Trabalhos seleccionados


Alireza SeyediSonic Microcosm: An Exploration in Environmental Activism
Ana Rita Costa -Paisagem Sonora do Estuário do Tejo
Ângela da PonteGround
Annie Mahtani - Breathe
Benjamin MartinottiGlacier
Bevin Kelley / Blevin Blectum
Bihe Wen - Beyond
Bracha Bdil- UrbaNature
Brane ZormanTree Spirit | Touch
Bruno Belardi- Antropocene
Carlos DelgadoPrelude to the Sixth Sun
César Juárez-Joyner -Atlakualistli
Charles M. Champi- Eironeia
Chatori Shimizu-Ohayo Parasite
Chelidon FrameHailstorm in Venice
Chin Ting ChanElements
Chris Cheung- Casting Light
Clovis McEvoy- Calls for Cages
Daniel Blinkhorn- Valiha
Daniele Carcassi Abo Abo Forgiafiume
David Jason Snow Ditch Plans
David Q. NguyenNeon Scenes
Davide BosiNatura Mutilata
Domenico De SimoneHypnos
Droki OuroGrind
Ely Janoville Santana Sobral- Circles of Influence
Ethan Resnik Elegy for the Victims in the Middle East
Francesco GulicDialogo
Gardika Gigih Mikrokosmos
George Rahi - Wake
Gina Lo -Bornean- Anura
Jaime Cuervo GómezAquerusia
Jean Voguet- Gê
Jorge Ramos- Paysage
Kasey PociusHollow Point
Katharina KlementInduction
Kyungjin LimEsurei
Lidia ZielinskaThe Eight Island
Lucca Totti- Terramuda
Marco Dibeltulu-Due atomi di idrogeno e uno di ossigeno
Maria Teresa Treccozzi Farblos
Mark Contreras WaissIcarus
Matthias Alexander Makowsky- Antarctica
Mattia Benedetti- Door frames covered in masking tapes
Maxwell FrankoWaterwayward
Nick VirziUsona
Nickos Harizanos - Water Famine
Nicola Cappelletti- Interno Pozzo
Nicola Fumo Frattegiani / Nicola Cappelletti-Sant'Anna Capsule n.3
Nicola Monopoli - 3 Stanzas
Nikki ShethChrioptera
Nuno CostaHeterokronos
Nuno Lobo & Felix Bell- Interior biome
Paolo Pastorino - (de)noising
Paul A. Oehlers - Red Coyote
Raúl Minsburg- Caida Libre
Rodolfo ValenteSubstrato Guarani: Jera
Sergio Flórez Rincón - Vereda el Pato
Tássio Mendes Caetano - PATI
Vera IvanovaWhite Room
Viktoria Grahv-We are guests of Nature and we must behave
Vincent Martial- Between Grounds
William Wai-Yau Shiu- Monkeys
Yuko Katori- Missing Landscape 1
Zhao Jiajing - Back to the Ocean


Dia 23 de Novembro, às 14h30


O papel das plantas marinhas no oceano do futuro

As alterações climáticas, evidenciadas pela paleoclimatologia e pela observação contemporânea de dados atmosféricos, têm hoje efeitos bastante visíveis na generalidade dos ecossistemas do nosso planeta, incluindo naturalmente nos oceanos. O aumento da concentração dos gases com efeito de estufa, nomeadamente dióxido de carbono e metano, tem vindo a induzir um aquecimento anormal da atmosfera e, por consequência, também do oceano. Adicionalmente, um destes gases, o dióxido de carbono, ao dissolver-se na água do mar, é também responsável por um fenómeno designado acidificação oceânica. Estes dois fenómenos, aumento de temperatura e acidificação, isolados ou em combinação, são responsáveis por mudanças significativas nos ecossistemas marinhos a vários níveis. 

Tal como em terra firme, também no mar as plantas (incluindo as algas) são as entidades biológicas que estruturam todos os ecossistemas, providenciando nomeadamente alimento e abrigo aos restantes grupos de organismos, que delas dependem directa ou indirectamente, através de teias complexas de relações tróficas e não só. Daqui resulta que os impactos das alterações climáticas sentidos pelas plantas no meio marinho são também potencialmente propagáveis a outros grupos de organismos. 

Nesta palestra iremos explorar os efeitos das alterações climáticas nas plantas marinhas, a vários níveis de organização biológica, desde os genes até ao funcionamento dos ecossistemas como um todo. Discutindo o tema num âmbito global, utilizaremos como base alguns exemplos de trabalhos realizados na costa portuguesa, a qual apresenta um particular interesse biogeográfico para a investigação nesta área. Tentaremos ainda projectar, com base no conhecimento disponível, como podem evoluir alguns destes ecossistemas e o papel central que as plantas marinhas desempenharão nesses cenários. Finalmente, discutiremos também a relevância social deste tópico, através das relações entre o ambiente, a investigação, o desenvolvimento e a sustentabilidade.


João Silva (CCMAR)
João Silva é Investigador Auxiliar no Centro de Ciências do Mar (CCMAR) do Algarve e a sua principal área de especialização é a ecologia e ecofisiologia de plantas marinhas. O foco principal da sua investigação tem sido nos impactos ecológicos, fisiológicos e moleculares das alterações climáticas, nomeadamente acidificação oceânica e ondas de calor, em ervas marinhas e macroalgas. Colabora também na docência na Universidade do Algarve desde 1997, onde é atualmente Professor Auxiliar Convidado. Mantem ainda um papel activo na divulgação da ciência, através de palestras educativas, formação, colaborações mediáticas, envolvimento com ONG e outras atividades que visam sensibilizar o público para a necessidade de valorizar e preservar os serviços ecossistémicos fornecidos pelas macrófitas marinhas, particularmente no contexto desafiante das alterações climáticas.



Crónica de várias extinções anunciadas - Dos peixes-gelo e outros inquilinos da Antártida às novas invasões mais perto de casa

As alterações climáticas globais trazem inúmeros desafios para a biodiversidade. Esta nova realidade afeta invariavelmente todas as espécies, num balanço entre as adaptações adquiridas ao longo de milhares de anos e o rápido ritmo das mudanças em curso. “Não é a espécie mais forte que sobrevive, nem a mais inteligente que sobrevive. É aquela que se adapta melhor às mudanças”, um conceito atribuído a Darwin, que resume a seleção das espécies. Num cenário em que se alteram os habitats, se estendem os limites da tolerância fisiológica, se modificam as disponibilidades de recursos e interações entre competidores, com a introdução de espécies invasoras, assistiremos rapidamente à definição de perdedores e vencedores. Este rácio afetará rápida e grandemente a diversidade biológica que conhecemos. Três exemplos serão discutidos:      

1) Os peixes da antártica evoluíram num ambiente de frio extremo, mas bastante estável, nos últimos 20-30 milhões de anos, e constituem um grupo à parte. As cerca de 200 espécies de nototenídeos vivem no Oceano Austral, com algumas exceções que migraram um pouco para norte. Diversificaram-se a partir de ancestrais comuns, ocupando os nichos ecológicos disponíveis e desenvolvendo características únicas, resultantes da forte pressão ambiental, mas também das oportunidades existentes neste meio. Todos os nototenídeos antárticos produzem proteínas anticongelantes, tão eficientes que lhes permitiriam viver até em temperaturas abaixo do ponto de congelação da água do mar. Alguns, beneficiando da elevada concentração de oxigénio nestas águas frias, abdicaram de produzir hemoglobina, e transportam o oxigénio em solução no plasma, em vez de o fazerem nos glóbulos vermelhos como todos os outros vertebrados. As projeções climáticas apontam para um aquecimento das águas no Oceano austral, mas a velocidade e dimensão desta mudança são ainda imprevisíveis, assim como a capacidade destas espécies para se ajustar a novas condições. Poderão encontrar no seu baú genético ou na sua caixa de ferramentas fisiológicas as soluções para se aclimatar ou evoluir ou serão parte de uma extinção anunciada?

2) Para evitar os impactos das alterações climáticas sobre os seus habitats, várias espécies estão paulatinamente a alterar a sua área de distribuição, deslocando-se para maiores latitudes, em busca de zonas termicamente favoráveis. É comum vermos na nossa costa várias espécies que denominaríamos como (sub)tropicais, enquanto outras, parte dos nossos recursos tradicionais, ocorrem hoje nos mares do centro e norte da Europa. Estas novas espécies poderão estabelecer-se e competir comas espécies locais levando à diminuição das suas populações e eventual extinção. Outras foram trazidas pela acção humana e encontram agora neste novo ambiente condições ótimas, especialmente se as alterações climáticas os favorecerem. Um caso emblemático no Mediterrâneo e para Portugal é o caranguejo-azul, que para além dos impactos sobre o ecossistema ameaça ser uma ameaça à economia baseada na moliscicultura.      

3) Os impactos das espécies invasoras nos cursos de água em Portugal foram grandemente negligenciados no século XX, durante o qual alguns destes peixes foram inclusivamente introduzidos pelas autoridades com responsabilidade no ambiente. Hoje ameaçam a fauna piscícola ibérica, uma das mais singulares da Europa, por predação, competição ou mesmo por hibridação com as espécies nativas. A sua distribuição acelera por mão humana mas também porque aumentam as áreas com condições mais favoráveis à sua proliferação, em paradoxo com a redução dos caudais e aumento da intermitência dos rios, nomeadamente no sul do país, consequência em grande medida das alterações climáticas mas também pelo uso excessivo e constrangimentos feitos nas massas de água. Que condicionantes biológicas e ambientais serão relevantes para definir vencedores e perdedores nestes cenários? 

Todas as espécies correm para a extinção, mas agora algumas correm mais rápido e outras são apanhadas de surpresa. 


Pedro Miguel Guerreiro (CCMAR)
Pedro Miguel Guerreiro é investigador no Centro de Ciências do Mar (CCMAR/CIMAR LA) e professor convidado na Universidade do Algarve. Licenciou-se em Biologia Marinha e Pescas, no Algarve, concluiu o doutoramento em Fisiologia Animal, na Holanda, e realizou atividades pós-doutorais nos EUA. Faz investigação em endocrinologia e ecofisiologia de organismos aquáticos, especialmente peixes, focando nos mecanismos que permitem a aclimatação e a adaptação ao ambiente e às suas mudanças, em contextos de alterações climáticas, ambientes extremos ou estabelecimento de espécies invasoras. Desenvolve atividades na Antártida desde 2012, com o suporte do Programa polar Português (PROPOLAR), e em colaboração com investigadores de outros países, nomeadamente do Chile. Participou em 7 expedições à Península Antártica, onde estuda a singularidade dos mecanismos adaptativos e evolutivos dos organismos desta região e os impactos de variações ambientais sobre os peixes e crustáceos intertidais, focando sobretudo na salinidade, temperatura e níveis de oxigénio, assim como o efeito do desfasamento entre a variação sazonal do fotoperíodo e a temperatura ou ondas de calor simuladas, processos decorrentes das alterações climáticas globais e previstos para aquela região. Em 2024 participou, como co-coordenador na expedição COASTANTAR, a primeira expedição científica portuguesa de veleiro na Península Artártica, que baseada num modelo logístico de baixo-custo e de reduzido impacte ambiental, enquadrou 10 projetos nas áreas da biologia marinha, ecologia terrestre, permafrost, ciências da atmosfera, riscos naturais, arquitetura sustentável e eficiência energética, e diplomacia científica.



Aquacultura e Sustentabilidade: Produção de Alimentos com Responsabilidade Ambiental
É difícil imaginar a nossa alimentação sem pescado. De facto, o consumo de pescado tem aumentado, ao longo das últimas décadas tando na Europa como no Mundo. Grande parte devido ao excelente valor nutricional deste produto, bem como aos benefícios para a saúde do consumidor associados ao consumo deste produto. Contudo os volumes das capturas (pesca) decresceram e/ou estabilizaram nos últimos anos, podendo comprometer a disponibilidade de pescado na nossa dieta. A produção em aquacultura pode contribuir para assegurar o fornecimento de pescado ao consumidor.
Contudo, o consumidor continua a ter muita desconfiança dos produtos de aquacultura, havendo até mitos sobre estes produtos. Grande parte da desconfiança resulta da falta de conhecimento sobre a produção em aquacultura. É neste contexto que surge o álbum de banda desenhada “O caminho para a Aquacultura”. Nesta palestra falaremos sobre o que é a aquacultura, a diversidade de estruturas de cultivo, as espécies que se cultivam e as condições do cultivo, bem como a investigação desenvolvida para aprofundar o conhecimento sobre as espécies, sobre as metodologias, para assegurar a sustentabilidade do cultivo, e de garantia para o futuro dos recursos aquáticos. Sobretudo é importante dizer que o pescado de aquacultura é uma excelente fonte de proteína, vitaminas e minerais, sujeito a apertado controlo de segurança alimentar."

Laura Ribeiro (IPMA)
Actualmente é investigadora no IPMA. Lisboeta de nascimento, rumou ao Porto, para tirar a licenciatura em Ciências do Meio Aquático (1989), no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. A frase do versátil Abel Salazar de que “Um médico que só sabe medicina, nem medicina sabe” tem sido o seu lema de vida. Ruma para Sul, onde continua a formação académica com um mestrado em Estudos Marinhos e Costeiros (1994), seguido de um doutoramento em Aquacultura, especialização em Nutrição (2003), ambos pela Universidade do Algarve. A investigação desenvolvida tem incidido sobre aspetos relacionados com o desenvolvimento de larvas de peixes marinhos, a nutrição e o bem-estar dos peixes, bem como a sustentabilidade dos métodos de produção. Através de uma abordagem holística e multidisciplinar tem tentado compreender melhor os mecanismos biológicos e fisiológicos do desenvolvimento dos peixes marinhos. Entende que a divulgação da sua atividade profissional deve contribuir para desconstruir mitos e permitir a comunidade tomar decisões conscientes.

Esta intervenção conta com a participação especial dos autores da banda desenhada “O caminho para a Aquacultura”, Bruno Pinto e Quico Nogueira (ilustrações).

Bruno Pinto, é comunicador de ciência e investigador na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com interesse especial em temas como a biodiversidade e as alterações climáticas. Desde 2016, é investigador no Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), dedicando-se sobretudo à área de comunicação sobre mar.

Quico Nogueira, apesar de ter trabalhado alguns anos como engenheiro civil, decidiu seguir a sua paixão pela ilustração, banda desenhada, cinema e animação. Desde 2009 tem vindo a desenvolver actividade nessas áreas, tendo obtido vários prémios nacionais.



Dia 23 de Novembro, às 19h30


Terrain Vagues | Blooming Landscapes- neuMERZ

"Terrain Vagues | Blooming Landscapes" é um projeto audiovisual que combina elementos jornalísticos e documentais. Explora os espaços urbanos abandonados, negligenciados e frequentemente esquecidos, conhecidos em alemão como "Stadtbrachen", "Baulücken" ou "Restflächen."

Inspirado pelos pós-estruturalistas franceses, que entendem "Terrain Vagues" como paisagens desertas e abandonadas em áreas urbanas, pretendo criar uma série de obras audiovisuais que abordem este fenómeno. O plano é produzir uma série de 12 episódios, exclusivamente ambientada na Expo Plaza, interagindo com os diversos edifícios do local. Cada episódio terá o seu próprio tema.

O projecto também examina os elementos utópicos do domínio virtual, que emergiram com a invenção dos computadores pessoais e da internet nos anos 1990 e início dos anos 2000. Esta visão utópica deu lugar a uma realidade distópica, em que o capitalismo penetrou o mundo digital.

No Lisboa Incomum, o neuMERZ apresentará uma performance audiovisual baseada no material recente recolhido durante o processo de trabalho em "Terrain Vagues".



neuMERZ

neuMERZ é um novo colectivo de música e média, originalmente fundado em Hannover, Alemanha, e liderado pelos compositores e artistas multimédia Philipp Henkel e Rachel C. Walker. Juntos, adotam uma abordagem crítica e de pesquisa para a composição, aplicando-a em diversos projectos: curadoria de instalações, concertos multimédia e cinema, com especial atenção à apresentação de formatos inovadores e novas perspetivas na cena da música contemporânea. 

Este projecto aproveita as competências dos elementos do grupo combinadas: composição acústica e electroacústica, renderização visual (Blender, C#, C++), design e experimentação de instrumentos, pesquisa histórica e programação. A colocação estas competências em diálogo directo resulta em conquistas artísticas com benefícios tanto teóricos como experimentais.

O colectivo neuMERZ realizou projectos em colaboração com Musik21 Niedersachsen (Disrupted Chronologies – Jahresthema 2022 Radikale), Deutscher Musikrat (Radiant8 Ensemble), Stiftung-Niedersachsen (Panopticon), Musikland Niedersachsen, Musikfonds (PRO DEFUNCTIS) e outros. Projectos recentes incluem a temporada de concertos de 2022 e a digressão do Radiant8 Ensemble; Disrupted Chronologies, um concerto multimédia e projecto de documentário; e KOPFGERÄUSCHE, uma digressão de novos trabalhos com uma atuação da dupla japonesa de improvisação de ruído de Berlim, Momose/Ishikawa. Em 2023, o neuMERZ apresentou o Concerto-Diálogo "al’thalj" no Württembergischer Kunstverein Stuttgart, em colaboração com o ensemble austríaco airborne extended.

O foco contínuo está no desenvolvimento de vários projectos de curadoria, actualmente em curso: uma colaboração interdisciplinar de longo prazo que abrange música, literatura e cinema, conectada à vida da escritora de viagens taiwanesa do século XX, San Mao; a instalação de investigação multimédia OPTIKS: Uma Fábrica de Memória Interativa; e a série Terrain Vagues / Blühende Landschaften. Em 2024, o neuMERZ apresentará PRO DEFUNCTIS, trazendo o ensemble americano Ekmeles à Alemanha para uma digressão com "Über den frühen Tod des Fräuleins Anna Augusta Markgräfin zu Baden" de Spahlinger, em homenagem ao 80.º aniversário de Spahlinger. Além disso, o colectivo neuMERZ estará em residência no Lisboa Incomum, no âmbito de uma bolsa de mobilidade da Culture Moves Europe. Projecto financiado pela União Europeia e pelo Goethe Institut. 




Dia 24 de Novembro, às 14h30


Workshop – Mãos na Massa: E se a Resiliência Urbana Fosse Plantada?
João Archer Pratas & Ariana Marques da Silva – Seeds on Wheels (SOW)

Thomas Graham © Arup

No workshop “E se a Resiliência Urbana fosse plantada?” o coletivo Seeds on Wheels desafia os participantes a sujar as mãos e a imaginar uma cidade onde a resiliência e a sustentabilidade brotam em cada espaço negligenciado. Inspirados pelo movimento de guerrilla gardening — uma prática de ativismo ambiental que revitaliza áreas urbanas abandonadas — vamos confeccionar seed bombs com espécies nativas, promovendo a biodiversidade e protegendo plantas essenciais aos nossos ecossistemas. Cada seed bomb lançada será um ato de transformação ecológica, semeando vida e resistência. 
Este workshop destaca o papel essencial de cada cidadão na transformação dos seus bairros e cidades, mostrando como pequenas ações coletivas podem revitalizar e enriquecer o ambiente urbano. No final, cada participante levará consigo native seed bombs prontas para serem lançadas em terrenos esquecidos, simbolizando uma “resistência verde” que reflete a nossa responsabilidade e capacidade de cultivar cidades e territórios mais saudáveis e sustentáveis.
Junte-se a nós e faça parte deste movimento de reconexão com a natureza e de intervenção ecológica!

Apoio: Sementes de Portugal


Dia 24 de Novembro, às 16h00


Concerto dos alunos do Laboratório de Música Mista da Escola Superior de Música de Lisboa

Concerto dos alunos do Laboratório de Música Mista da Escola Superior de Música de Lisboa


Programa


João Pedro Oliveira: Singularity, (ca. 11’)  
Inérzio Macome , cello

Fábio Chicotio e António Narciso: Recycled Classics (ca. 3’) 
Espacialização - Cristóvão Almeida

Sergio Kafejian: ⁠Circulares, (ca. 9’)
Rodrigo Freitas, trombone
Cristóvão Almeida electrónica em tempo real 

Vera Carvalho: a musical poem over spring (ca.4)
⁠Vera Carvalho, guitarra

Ângela da Ponte: Ground (ca.8) *

Larisa Halis - Healing Spell (ca. 11)
Inérzio Macome, Alexandre Vü, Vera Carvalho, Vitória Gorjão, Inês Montoia, Raúl Eira



*⁠ Peça seleccionada no âmbito da CALL FOR MUSIC - Culture and Sustainability 2024 


“a musical poem over spring”, para guitarra clássica e eletrónica, é uma peça ambiente que representa a primavera. Envolvendo e integrando a natureza, a eletrónica é composta de sons como pássaros e cães, o vento e diversos elementos naturais, manipulados de modo a criar um ambiente em que toda a peça se desenvolve. Como que a escrever um poema sobre o papel, a guitarra vai descrevendo o fenómeno da passagem do tempo e o processo das mudanças naturais e graduais na natureza, ao longo do ciclo primaveril.


Vera Carvalho (2006), natural do Porto, iniciou os seus estudos musicais aos 8 anos, na Academia de Música de Costa Cabral (AMCC). Em 2024, na mesma academia, concluiu o Curso Profissional de Instrumentista de Cordas e Tecla (guitarra clássica), sendo de realçar o trabalho que desenvolveu com os professores André Pires Costa e Daniel Martinho.
Ao longo do seu percurso musical, destacam-se atuações a solo, música de câmara, orquestra e coro, em palcos como a Casa da Música e o Coliseu Porto AGEAS, assim como a participação em diversas masterclasses na área da guitarra clássica, com Artur Caldeira, Johannes Möller e Pedro Rodrigues. Trabalhou também sob a direção musical de maestros como Diogo Costa, Martin André e Osvaldo Ferreira, juntamente com a Banda Sinfónica Portuguesa (BSP), o Coro Polifónico da Lapa (CPL) e a Orquestra Filarmónica Portuguesa.
Na área da composição, tem estreado e apresentado as suas obras ao vivo em diversos palcos portugueses, tais como a Fundação Serralves e a Fundação Eng. António de Almeida, e teve a oportunidade de ter estreado a sua peça para órgão, "Lost in the Sequence” (2024), na capela da Universidade de Duke, em Durham, nos Estados Unidos.
Atualmente, frequenta o 1º ano da Licenciatura em Composição na Escola Superior de Música de Lisboa (ESML), sob a orientação do professor e compositor Sérgio Azevedo.